terça-feira, 31 de maio de 2011

João Gilberto e o silêncio. (Parte 2)


Fechando a segunda parte sobre João Gilberto, segue abaixo o link da entrevista dada pelo falso perfil do artista na rede social Facebook, o que gerou uma polêmica aparte em relação a verdadeira entrevista publicada na revista Veja – Rio.


E mais dois vídeos, um com uma breve entrevista dada em 1993 para o repórter Amaury Jr, onde Nelson Mota e Eduardo Couto falam mais que o próprio entrevistado, e outro um pouco engraçado, no qual João se mostra simpático e diz algumas palavras para o Rafael Cortez, repórter do programa CQC em 2008.

[Link dos dois vídeos]




Pauta:
Julia Pereira
Vitor Arruda

segunda-feira, 30 de maio de 2011

O melhor de Larry King


Larry King

O livro “O Melhor de Larry King As Grandes Entrevistas”, publicado em 1995, Larry King já tinha feito 35 mil entrevistas. O livro foi lançado em homenagem aos seus dez anos de programa que é exibido pela rede CNN, em mais de 220 países. Neste show de entrevistas, submete os entrevistados, levando-os de forma implacável a redundâncias e a frases quebradas em um misto de perguntas capciosas, provocativas e bem humoradas.
A seguir vamos ler trechos da entrevista sobre o NAFTA (Tratado Norte Americano de Livre Comércio), entre o vice-presidente Al Gore e o candidato Ross Perot, que alcançou segundo maior índice de TV a cabo, no mundo só perdendo pêra cobertura da Guerra do Golfo. Acredita-se que o tratado só foi assinado após esse debate.


                    
Larry King: Mas antes você estava em cima do muro sobre o NAFTA o que mudou agora?
Al Gore: Bom nós dissemos desde o começo que queríamos aperfeiçoar as medidas básicas, o que fizemos com acordos colaterais. E o motivo pelo qual isso era tão importante pode ser ilustrado com a história de um amigo meu de infância, chamado Gordon Thompson,  que mora em Elmwood, Tennessee, com sua mulher, Sue e seu filho, Randy. Ele ganha a vida fazendo pneus. É membro do Sindicato dos Trabalhadores da Borracha e apoiou o acordo depois de refletir como ele afetaria seu trabalho e sua família. Fazemos os melhores pneus do mundo, mas temos muita dificuldade em vendê-los para o México, porque eles taxam em20%na fornteira, mas quando eles fazem pneus e os vendem nos Estados Unidos, a taxa na Fronteira é zero. Então, é uma rua de mão única. Com o NAFTA, isso muda. Vai Haver um equilíbrio.
Larry King: Você sempre foi um adepto do livre comercio, Ross?
Ross Perot: Eu pratico o livre comércio.
Larry King: Você apóia de algum modo o NAFTA?
Ross Perot: De modo algum.
Larry King: O que você tem contra?
Ross Perot: O problema que ele não é bom para os povos dos dois países... Sim. Penso que o importante para todos que estão assistindo a este programa está noite é lembrar de que não se trata de uma competição esportiva. A questão não é quem ganha, eu ou o vice-presidente. A questão é se o povo dos Estados Unidos ou o povo do México ganham com isso. Esse é o ponto principal, e acho que todos concordamos nisto. Minha preocupação é muito simples. Penso na nossa experiência passada em programas governamentais apenas “de fachada”, é isso que vejo. Temos muita experiência no México. Fui acusado de passadista. Pois bem. Estou olhando para realidade no passado, e é isso que vejo depois de muitos anos. Ávida do trabalhador mexicano, seu nível de vida e seu salário baixaram em vez de subir. Depois de muitos anos com as empresas dos Estados Unidos no México.  Se você tivesse uma grande companhia americana e fosse visitar sua nova fábrica, e encontrasse favelas em volta dela, sua primeira reação seria: “Por que vocês construíram a fabrica no meio dessas favelas?”. E o gerente de sua fabrica responderia: “Não havia favelas aqui quando construímos a fábrica.” E você diria: “Bem, então por que elas estão aqui agora?”. E a resposta seria: “É aqui que os operários trabalham”.

- Quer assistir essa entrevista na íntegra?
O youtube disponibiliza várias versões extendidas e reduzidas da entrevista de 1984!

                    
Depois de vinte e cinco anos de programa, Larry King se aposentou depois de entrevistar as pessoas mais famosas e poderosas do mundo. O jornalista Larry King saiu do ar na CNN final de 2010, dando lugar ao Britânico Piers Morgan.


Para ver essa entrevista na integra e outras, Também muito boas como Frank Sinatra, Marlon Brando, Mike Tyson, Margareth Thatcher e muitas outras, vale a pena conferir o livro.


No site da CNN, foram escolhidos os melhores momentos de Larry King! 
Confira: http://articles.cnn.com/2010-05-28/opinion/larry.kings.top.5_1_larry-king-nafta-frank-sinatra?_s=PM:OPINION


Texto de Cristiano Meneses 
Postado por Ana Carolina Eloy

Jair Bolsonaro. O povo quer saber...

Entrevista do deputado Jair Bolsonaro ao CQC

Uma das entrevistas mais polêmicas da atualidade foi realizada pelo programa CQC com o deputado Jair Bolsonaro, no quadro "O povo quer saber".Abordando temas como racismo, homossexualismo e filhos. Em resposta a pergunta da cantora Preta Gil, foi grosseiro e disse que seus filhos não tiveram a mesma educação que ela.
Não paramos por aí, Bolsonaro continua aprontando com seus terríveis bate bocas, sem fundamento, em pleno século XXI. Em entrevista a jornalista Daniela Paixão, em Brasília, ele continua atacando 
Confira as opiniões polêmicas do deputado nos vídeos abaixo:







publicado por Raphael Silva
fonte Damiana Farias


sábado, 28 de maio de 2011

Karl Marx – Akrl Heinrich Marx


Nascido em 05 de maio de 1818, de nacionalidade alemã – Karl Marx um intelectual e revolucionário alemão , fundador da doutrina comunista moderna, atuou como economista, filosofo, historiador, teórico político e jornalista, com pensamento que influencia varias áreas.
Marx faleceu com bronquite e pleurisia em Londres no ano de 1883.
Karl Marx, iniciou sua carreira como editor de um jornal da cidade de Colônia, na Alemanha, em 1840. Quando a publicação foifechada  pelo governo por razões políticas, Marx transferiu-se para Paris. Ali, seu destino como jornalista não foi muito diferente - o diário em que ele trabalhava também foi cassado. O filósofo e cientista político mudou-se então para Londres, onde escreveria sua grande obra, O Capital, editada pela pri­meira vez em 1867. O correspondente do jornal The World em Londres, R. Landor, realizou a entrevista em um momento crucial da história européia - apenas dois meses depois de sua publicação, a Comuna de Paris, na qual Marx esteve envolvido seria violenta e sanguinariamente reprimida. A conversa entre Marx e Landor, segundo relatos da época, teve uma testemunha privilegiada: Friedrich Engels, o co-autor do Manifesto Comunista

Um dos grandes nomes da nosso historia, não podíamos deixar de fora do nosso blog.

Em Entrevista conduzida por R. Landor, publicada originalmente no jornal The World, de 18 de julho de 1871 e republicada no livro: ALTMAN, Fábio (org.). A arte da entrevista: uma antologia de 1823 aos nossos dias. São Paulo: Scritta, 1995, de onde foi extraída.

Quer ler esta grande entrevista? Clique aqui!



Texto: Damiana Farias
Postado por: Flávia Pereira

domingo, 22 de maio de 2011

Entrevista de Inri Cristo para o Jô Soares


 Inri Cristo nasceu em uma pequena aldeia no interior do estado de Santa Catarina chamada Indaial, no dia 22/03/1948, foi criado por um casal de camponeses alemães católicos, ambos não conheciam a sua origem e o criaram como se fosse seu próprio filho. Inri cresceu num ambiente católico. Desde a infância, ele diz obedecer a uma voz forte e poderosa que lhe fala no interior da sua cabeça. Sempre obediente a essa voz, abandonou o seu lar aos 13 anos, passando a viver independente.
Já na fase da adolescência, trabalhou como verdureiro, padeiro, entregador de alimentos, mascate e garçom. Na biografia postada em seu site na Internet, consta que Inri testemunhou certas falcatruas no ambiente do catolicismo e por esse motivo, ele decidiu romper totalmente o seu vínculo com a religião, tornando-se ateu. Porém, segundo ele, houve um momento em que lhe revelaram sua verdadeira identidade. Em 1969, ele iniciou a sua vida pública como profeta, como se dizia ateu, vivia como um profeta de um “DEUS” desconhecido, mais tarde começou a aparecer na televisão, onde lhe abriu as portas para a sociedade e ser devidamente conhecido como Inri Cristo.
Por meio da voz que escutava na sua cabeça, Inri submeteu-se ao jejum em Santiago do Chile em 1979 e na mesma ocasião, a “voz” o revelou como sendo seu Pai, Senhor e Deus, o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó, lhe revelou a sua verdadeira identidade, que ele era realmente o mesmo Cristo, que foi crucificado há dois mil anos. Desde momento, Inri passou a trajar uma túnica branca, e falar em nome de DEUS, junto ele leva os seus seguidores.
Atualmente, Inri Cristo é mais conhecido pelas suas aparições e suas entrevistas polêmicas, pois todos sabem que ele se diz ser o “Filho do Pai”, e que Deus lhe deu a terra como berço para ele poder reencarnar. Inri, já se tornou uma pessoa tão famosa que tem site na Internet, onde responde mais de 300 perguntas, já participou de diversos programas de televisão, sendo os mais comentados por todos, o programa do Ratinho, no SBT e, por duas vezes, foi entrevistado pelo apresentador Jô Soares, no qual no momento da entrevista, Jô Soares desdenhava bastante da suas presença.

Abaixo seguem os vídeos de uma dessas entrevistas:

 








Texto de: Aline de Oliveira
Postado por: Flávia Pereira

E o senhor acha pouco? (Parte II)

Na primeira parte dessa postagem, dia 09/05, nós mostramos a rara entrevista que o motorista do Fernando Collor, Eriberto França, deu a revista Isto É. Nela, o motorista não só confirmou as denuncias de Pedro Collor como ainda falou mais sobre contas fantasmas criadas pelo então presidente e seu testa de ferro.

Para entender um pouco mais sobre as denuncias de Eriberto, trazemos hoje a entrevista que o Pedro Collor deu a revista Veja que foi publicada no dia 27 de maio de 1992. Nesta entrevista Pedro Collor faz denuncias contra seu irmão e ainda afirma quem é o seu 'testa de ferro'.

Leia abaixo a íntegra de mais uma grande entrevista!



"O PC é o testa-de-ferro do Fernando"
Na tarde da última quarta-feira Pedro Collor tomou um avião em Maceió e chegou a São Paulo após uma escala no Recife. Em com­panhia da mulher. Maria Tereza, e de uma irmã, Ana Luiza, Pedro Collor deu uma entrevista de duas horas a VEJA. A seu pedido, o encontro ocorreu nas dependências da revista. A mulher e a irmã de Pedro Collor foram testemunhas de suas declarações, e chegaram a colaborar em algumas respostas. Além de fazer novas denúncias sobre a atividade de PC Farias no governo, Pedro Collor diz que ele é "testa-de-ferro" do presidente Fernando Collor. Diz que o jornal Tribuna de Alagoas, que PC Farias quer lançar em Maceió, na verdade pertence a seu irmão. Também garante que um apartamento de Paris que se supunha ser propriedade do empresário na realidade pertence a Fernando Collor. Para Pedro Collor, existe uma "simbiose profunda" entre os dois. Os principais trechos da entrevista:

VEJA - O senhor se considera louco?
Pedro Collor - Não, de jeito nenhum.

VEJA - Se a sua própria mãe está falando isso, é o caso de perguntar. Já fez algum tratamento psiquiátrico?
Pedro Collor - Não, nunca fiz tratamento psiquiátrico ou psicanálise. Essa pressão toda tem um objetivo claro. O objetivo foi passar para a opinião pública a sensação de que não tenho credibilidade, que estou sob forte comoção. Convenceram mamãe a assinar aquela carta. Ela é muito ingênua nesse sentido.

VEJA - As suas afirmações e denúncias, os documentos que o senhor levantou contra Paulo César Farias e as críticas que vem fazendo ao Presidente colocam o governo e o país numa situação delicada. O senhor está ciente disso?
Pedro Collor - Absolutamente consciente.

VEJA - O senhor tem dito que suas revelações podem acabar com o governo do seu irmão. E isso que o senhor quer?
Pedro Collor - Não, mas qual foi o principal mote da campanha do Femando? Quem roubava ia para a cadeia. Na prática, estou vendo uma coisa completamente diferente. Ninguém pode enrolar todo mundo o tempo todo.

VEJA - Essa briga começou em torno do lançamento de um novo jornal, que concorreria com a Gazeta de Alagoas, das organizações Arnon de Mello?
Pedro Collor - Em janeiro de 1991, levei ao Fernando, no Palácio do Planalto, o plano de se montar um novo jornal em Alagoas. Seria um jornal vespertino. Já houve no passado vespertinos no Estado, e que pararam por um motivo ou outro, agora não há nenhum. Como achei que havia uma brecha no mercado, e a gráfica do nosso grupo estava ociosa, fiz a proposta ao Fernando. Expliquei que o novo jornal não faria parte do grupo da Gazeta, seria uma iniciativa à parte.

VEJA - O que o presidente achou da idéia?
Pedro Collor - Ele me disse o seguinte: "Não, não leve a idéia do jornal adiante porque eu vou montar uma rede de comunicação paralela em Alagoas com o Paulo César, e essa rede terá um jornal". O Fernando falou que o jornal iria se chamar Tribuna de Alagoas. Disse também que a Tribuna seria impressa na imprensa oficial do Estado. Então perguntei por que ele não imprimia esse novo jornal na gráfica do nosso grupo. O Femando respondeu: "Não".

VEJA - A rede de comunicação seria de PC Farias?
Pedro Collor - O PC seria o testa-de-ferro. Era uma empresa de testa-de-ferro, que teria o jornal e de doze a catorze emissoras de rádio.

VEJA - Qual foi a sua reação a essa rede?
Pedro Collor - Raciocinei que, se o novo jornal ia ser impresso na imprensa oficial, seria em preto-e-branco, um jornal para ocupar espaço, evitar que grupos adversários na política entrassem na área. Dizia-se que não era um jornal para concorrer efetivamente com a Gazeta e, de repente, compraram um maquinário exatamente igual ao nosso, e me tomam funcionários pagando três ou quatro vezes mais do que eles ganham conosco. Então é um negócio para destruir o nosso, certo? Foi aí que a coisa começou. Houve também um problema corri a instalação de rádios. Na mesma reunião em que falei do novo jornal com o Fernando, eu disse que precisávamos também de duas rádios, FMs pequenas ou médias, na periferia de Maceió.
 
VEJA - Como o senhor conseguiria essas rádios?
Pedro Collor - Pelas vias normais. Essas duas rádios já existiam no plano traçado pelo governo.

VEJA - E obteve as rádios?
Pedro Collor - Obtive duas negativas. Simultaneamente, eles mexeram no plano, a ponto de contemplar todas as cidades que até então não estavam com rádios FM.

VEJA - Isso foi feito por quem?
Pedro Collor - Por solicitação do deputado Augusto Farias, irmão do PC. Vejam bem: converso com ele tentando montar um jornal, falo das rádios que podem entrar. Negam para mim. E viabilizam para eles umas doze rádios que nem estavam cogitadas no plano.

VEJA - O senhor tentou chegar a um acordo sobre o jornal antes de começar a recolher documentos sobre os negócios de PC?
Pedro Collor - Houve tentativas que não deram certo, porque a intenção não era montar um jornal assim ou assado, mas montar um jornal para destruir o nosso. Em fevereiro passado, saiu aquela reportagem do Eduardo Oinegue, em VEJA, sobre o assunto, em que eu chamava o PC de lepra ambulante. Eu estive então com o Cláudio Víeira (secretário particular de Collor, afastado do governo na reforma ministerial). O Cláudio me disse que há cinco dias o Fernando não despachava com ele, nem com o general Agenor, nem com o Marcos Coimbra. O Cláudio Víeira me contou que no dia anterior o Fernando havia se reunido, durante uma hora e meia. com o procurador-geral da República, Aristides Junqueira. Segundo o Cláudio me contou, o procurador disse ao Fernando que, se eu não desmentisse a reportagem de VEJA, o Junqueira iria instaurar um inquérito, e que isso derrubaria o governo. Eu respondi ao Cláudio que não tinha intenção de derrubar o governo de ninguém, que minha intenção era me preservar e alertar que o PC era uma bomba atômica ambulante, independentemente de jornal ou coisa que o valha. Esclareci que não poderia desmentir a reportagem pura e simplesmente, e pedi um compromisso firme de que o PC não iria tentar acabar com nossa organização. Sugeri que a Gazeta arrendasse a gráfica da Tribuna, pagasse, e nós imprimíssemos o jornal. Cheguei a conversar depois sobre essa proposta com o PC, e ele disse que adorou. Na hora de formalizar o acordo, sumiu. O Cláudio Vieira então me disse que o Paulo César estava com outras idéias e ia me procurar. Estou esperando até hoje.
 
VEJA - Por que o pre­sidente Collor, se é ele que está por trás dessa rede de comunicações montada pelo PC, esta­ria interessado em preju­dicar e até destruir os negócios da família?
Pedro Collor - É uma questão que só Freud explica. (Tereza, mulher de Pedro Collor. pede para falar)
Tereza - O Fernando Collor faz isso porque o Pedro não se submete a ele. O Fernando viu que não podia tirar o Pedro da administração dos negócios da família. Foi o Pedro quem geriu, e bem, as empresas durante esses anos todos. O Fernando quer o meio de comunicação e instrumento político, enquanto o Pedro tem a responsabilidade de administrá-lo como empresa. É daí que nasceu a divergência.

VEJA - O senhor acha mesmo que o PC é um testa-de-ferro do presidente nos negócios?
Pedro Collor - Eu não acho, eu afirmo categoricamente que sim. O Paulo César é a pessoa que faz os negócios de comum acordo com o Fernando. Não sei exatamente a finalidade dos negócios, mas deve ser para sustentar campanhas ou manter o status quo

VEJA - De quem é o apartamento de Paris onde funciona a S.CI . de Guy des Longchamps e Ironildes Teixeira?
Pedro Collor - É dele.

VEJA - Dele, quem?
Pedro Collor - Dele. Do Fernando, claro.

VEJA - O senhor não tem dúvidas?
Pedro Collor - Não tenho a menor dúvida.

VEJA - De quem é o jatinho Morcego Negro?
Pedro Collor - Acho que é do Paulo César, mas não posso afirmar.

VEJA - O presidente Collor sairá mais rico do governo?
Pedro Collor - Em patrimônio pessoal, sai. Sem dúvida nenhuma.

VEJA - O presidente está envolvido na sua denúncia de que o Paulo César recebeu unta comissão de 22% sobre os negócios entre a empresa IBF e o governo para a implantação da raspadinha federal?
Pedro Collor - O Fernando não entra no varejo da coisa. Ele apenas orienta o negócio.

VEJA - O que acontece com o dinheiro?
Pedro Collor - O Paulo César diz para todo mundo que 7O% é do Fernando e 3O% é dele.

VEJA - O senhor acredita nisso?
Pedro Collor - Eu não sei se a porcentagem exata é essa.

VEJA - Mas o senhor sustenta que existe uma sociedade entre os dois?
Pedro Collor - Tenho certeza de que é assim. Existe urna simbiose aí. Eu não estendo as acusações ao Fernando diretamente. Uma coisa é você concordar. Outra coisa é operacionalizar. São duas coisas distintas. Operacionalizar, no sentido do dolo, no sentido do ilícito, isso é muito do temperamento do PC. Ele tem prazer nisso. O Fernando é incapaz de sentar em uma mesa e dizer assim: “O negócio é o seguinte: preciso de uma grana para a minha campanha. Me ajuda”. Pode estar nu e sem sapato que não pede ajuda. Já o PC toma. Deixa você nu se for possível.

VEJA - O senhor já ouviu do Paulo César que ele tem essa associação com o seu irmão?
Pedro Collor - Sim, já ouvi dele.

VEJA - E do presidente?
Pedro Collor - Não, do Fernando, não.

VEJA - O PC é uma pessoa digna de crédito?
Pedro Collor - Se ele foi o tesoureiro de duas campanhas do Fernando, se age com age publicamente, se ele mesmo fala isso, eu só posso concluir que é verdade.

VEJA - Qual foi a última vez em que o senhor e o presidente conversaram sobre as atividades de PC Farias?
Pedro Collor - Em janeiro deste ano. Eu tinha acabado de chegar do exterior e o Fernando me chamou para almoçar. Foi uma conversa afável, embora o Fernando, tenha se mostrado cuidadoso ao mencionar o nome do PC. Pisava em ovos. Eu reclamei da maneira como o PC vinha tentando destruir o nosso jornal em Alagoas, chamando nossos funcionários. Foi uma conversa sobre os problemas com o jornal.
 
VEJA - O senhor mencionou as denúncias de corrupção sobre PC?
Pedro Collor - Com o Fernando, exatamente, não. Falei "n" vezes com os meus irmãos Leopoldo e Leda, com o Cláudio Vieira e o Marcos Coimbra.

VEJA - Por que nunca falou diretamente com o presidente?
Pedro Collor - Eu sentia que, se eu falasse, ele iria ter uma explosão violentíssima. O Fernando não gosta de escutar críticas.

VEJA - Por que o senhor passou a envolver o presidente Collor nas suas denúncias contra o PC?
Pedro Collor - Eu comecei a receber ameaças de morte dos irmãos do PC através de interlocutores comuns. Cheguei a falar com o Cláudio Vieira sobre tudo o que estava acontecendo. Concluí que o PC não estava agindo por conta própria. É o estilo típico do Fernando usar instrumentos. Ele não ataca de frente.

VEJA - O senhor não acredita que exista uma vontade política real do presidente em investigar as atividades de PC Farias. Afinal, a Receita Federal foi acionada para vasculhar o imposto de renda de PC?
Pedro Collor - Não acredito nisso. Acho que a investigação ia ser empurrada com a barriga e seria apenas retórica.

VEJA - Qual a diferença entre o PC Farias e o Pedro Paulo Leoni Ramos, o PP? Ou entre o PC e o Cláudio Vieira? Ou entre eles e o Claudio Humberto?
Pedro Collor - São os métodos. O PC é o erudito do roubo, da corrupção, da chantagem. Os outros têm uma aspiração, mas também têm um teto. O PC não tem limites.

VEJA - Mas o PC vai até onde?
Pedro Collor - Ele é capaz de matar para extorquir.

VEJA - O senhor apresentou o PC Farias ao Fernando Collor. Quando começou a afastar-se dele? Por quê?
Pedro Collor - Na época eu não o via como hoje. Ele era um sujeito enrolado com negócios, mas apenas isso. Não pagava as contas. Mas era um sujeito jeitoso, muito insinuante, muito simpático. Ele é muito envolvente em negócios. Comecei a me afastar quando o Fernando se tornou governador do Estado.

VEJA - O senhor tem alguma coisa contra o cidadão Fernando Collor, seu irmão?
Fernando Collor - Pessoalmente, o Fernando é um sujeito extremamente talentoso, carismático, magnético e, em alguns momentos, é uma criatura fantástica, cheia de energia. Ao mesmo tempo, é rancoroso, vingativo e adora manipular as pessoas. Ele gosta das pessoas subservientes.

VEJA - O senhor chegou a falar que o seu irmão Fernando tentou se insinuar junto a sua mulher, Tereza. Como foi isso?
Pedro Collor - Não foi exatamente isso. Eu e Tereza tínhamos passado por uma crise conjugal, o que acontece muitas vezes entre casais. Isso foi em 1987, quando Fernando era governador de Alagoas. Nesta ocasião, eu estava no Canadá. Tive a informação de que ele chamou Tereza para conversar no palácio. Conversaram durante um bom tempo. Ali era o lugar onde ele tinha intercurso, com algumas moças. Houve fofocas sobre isso e eu fui informado. Tereza foi depois para Paris e Fernando me chamou para dizer que havia conversado com ela e que eu me preparasse porque ela iria se separar de mim. Disse que eu havia pisado muito na bola e que me preparasse. Em paralelo, eu sabia que ele estava telefonando para ela em Paris, naturalmente utilizando a fragilidade da relação para telefonar e talvez até fazer a cabeça dela. Eu consegui as contas telefônicas do palácio que comprovaram essas ligações.

VEJA - Houve uma tentativa explícita de sedução?
Pedro Collor - Eu acredito que implicitamente ele tentava mapear a situação, diante de uma pessoa fragilizada emocionalmente pela perspectiva de uma ruptura de casamento. Uma voz simpática. um ombro amigo...

VEJA - Tereza, houve uma tentativa de sedução?
Pedro Collor - Não, ele tem esse jeito de falar que é meio fraternal, meio conselheiro.

VEJA - Apesar de sua suspeita de paquera por que continuou freqüentando seu irmão? Por que esteve na posse dele como presidente?
Pedro Collor - Porque não se deve sair arrebentando portas. Tive controle emocional.

VEJA - Pelo que se deduz, o senhor coloca esse episódio como um entre vários através dos quais seu irmão tenta atingi-lo. É isso?
Pedro Collor - O que ele quer é me ver distante do comando administrativo das empresas que temos. Para colocar uma pessoa dele lá dentro, por uma questão política.

VEJA - O senhor nomeou alguém para o governo federal?
Pedro Collor - Nem para a prefeitura de Maceió nem para o governo de Alagoas nem para o governo federal.

VEJA- Por quê?
Pedro Collor - Não é do meu feitio.

VEJA - O que o senhor acha das nomeações do Leopoldo (irmão mais velho de Collor)?
Pedro Collor - Eu não conheço as nomeações do Leopoldo. Não converso sobre esse assunto com ele.

VEJA - O senhor já admitiu que consumiu drogas na juventude. Como foi isso?
Pedro Collor - Quando eu era jovem, era uma coisa que estava na moda, lá por 1968,1969,197O.

VEJA - Em 1968, o senhor estava com 16 anos de idade.
Pedro Collor - Mas é isso.

VEJA - Que tipo de droga?
Pedro Collor - Cocaína.

VEJA - Seu irmão Fernando também?
Pedro Collor - Sim.

VEJA - Foi ele que o induziu a experimentar cocaína?
Pedro Collor - Não é que induziu, nem apresentou nem nada. As pessoas, por serem de faixa etária um pouco acima, naturalmente têm mais acesso a esse tipo de coisa. Foi assim que aconteceu.

VEJA - LSD também tinha?
Pedro Collor - Teve também LSD, umas duas ou três vezes.

VEJA - O senhor largou isso quando?
Pedro Collor - Logo depois. Senti que me fazia mal. Emagreci muito.

VEJA - Quanto ao presidente, o senhor tem notícia de que ele tenha consumido drogas após essa época na Juventude?
Pedro Collor - Não, depois dessa época. não.

VEJA - O senhor já ouviu falar em Allan Mishai Fauru?
Pedro Collor - Conheço desde menino do Rio. Um belo dia, o Fernando já governador, me parece, o Allan o convidou para ser padrinho do casamento dele. Depois ele se mudou para Maceió, anos mais tarde, e montou um boteco. Soube depois que ele tinha ligações com traficantes, vendia, repassava. Mas ele não tem qualquer relação com o Fernando, absolutamente.

VEJA - O senhor não acha que as instituições brasileiras correm algum risco com assuas denúncias?
Pedro Collor - Acho que nossas instituições agüentam o tranco. Se eu começar a entrar muito em considerações a respeito do governo, eu não dou um passo. Tenho de fazer aquilo que acho correto. Que os outros façam as partes deles.

VEJA - O senhor acredita que, com as últimas mudanças no ministério, o PC é menos influente no governo?
Pedro Collor - Sim. Ele perdeu toda ou quase toda a sustentação.


Fonte: Veja On-line

Texto de: Juliana Sampaio
Postado por: Flávia Pereira

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Leila Diniz – “Sou uma pessoa sem sentido”

Nesta entrevista concedida ao jornal O Pasquim a atriz que escandalizou o país ao exibir sua gravidez de biquíni na praia, fala sobre sua vida pessoal e profissional de maneira descontraída e cheia de palavrões.
Numa linguagem simples e descontraída, Leila Diniz conversou e bebeu por duas horas e mostrou que apesar de ser uma “menina” de 24 anos, sabia exatamente o que queria e que quando quis, conquistou sua independência.
Não deixe de conferir essa histórica entrevista.
Link com a entrevista na íntegra - http://www.semcortes.com/?p=131.

Natalia Frederick.

Postado por Cyro Viegas.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

A última entrevsita de José Saramago

Escritor, jornalista, novelista, português e vencedor do prêmio Nobel de Literatura (1988) José Saramago morreu em junho de 2010 deixando uma extensa biografia com livros de sucesso que marcaram a literatura mundial.


Em outubro de 2008, José Saramago conversou com a Folha durante pré-estreia do filme "Ensaio Sobre a Cegueira", no vilarejo de Alcochete. Em sua última entrevista à Folha, o escritor estava fragilizado, recuperando-se de uma pneumonia.
Na ocasião, Saramago falou à jornalista Sylvia Colombo sobre o lançamento de seu novo livro, "A Viagem do Elefante". 

Confira abaixo a reportagem
Um vento frio batia no vilarejo de Alcochete, que fica à beira do rio Tejo, a poucos quilômetros de Lisboa, na noite da última terça-feira. Ali, num shopping moderninho a céu aberto, "Ensaio Sobre a Cegueira" teve uma acanhada pré-estréia, na terra do criador de sua trama, o escritor e Prêmio Nobel português José Saramago, 85.
Ao lado do diretor do filme, Fernando Meirelles, Saramago fez um curioso comentário. "A última vez em que estive em Alcochete, aqui só havia burros." Sentiu-se, então, um silêncio constrangedor na plateia.
Mas ele logo explicou o que queria dizer. No passado, a região era conhecida por ser um lugar onde burros de carga vinham tomar água e se alimentar. Mas, agora, parecia ter se tornado apenas mais um lugar a sucumbir ao capitalismo.
Logo ouviram-se risadinhas. Em parte deviam ser de alívio, dos reais moradores de Alcochete, que percebiam que não, não estavam sendo xingados.
Mas, no geral, o que elas mostravam mesmo era que os presentes reconheciam naquelas palavras o bom e velho Saramago. Sempre disposto a, a partir de uma situação comezinha qualquer do dia-a-dia, buscar analogias para lançar torpedos contra as crueldades do capital e da globalização.
No dia seguinte, na sede da Fundação José Saramago, em Lisboa, pergunto ao autor se, afinal, não era melhor para a pobre Alcochete, nos dias de hoje, ser a sede de um shopping center do que uma aldeia freqüentada por burros de carga.
"É óbvio que os que ali vivem assim pensam, mas alguém precisa surgir para avivar lembranças. Conservar a memória de um outro tempo ajuda a relativizar o atual."

No Brasil
Para o métier intelectual, Saramago é um esquerdista cabeça-dura incorrigível, mas ele parece não se importar com isso, e o fato é que seus livros caíram no gosto comum geral. Principalmente por parte do público brasileiro.
Os números de vendas ilustram isso. Atacado em Portugal pela Igreja Católica, "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" vendeu na ex-colônia mais de 200 mil exemplares. Já "Ensaio Sobre a Cegueira", 300 mil, número impulsionado agora pelo filme de Meirelles.
Esse vasto mercado e uma relação afetiva crescente com o país levaram Saramago a escolher o Brasil para receber sua nova obra, o romance "A Viagem do Elefante". No dia 27 de novembro, em evento no Sesc Pinheiros, ela terá seu lançamento mundial.
Na mesma semana, o Nobel será também homenageado pela Academia Brasileira de Letras, no Rio, e terá aberta no Instituto Tomie Ohtake, em SP, uma exposição com objetos pessoais e manuscritos.
Em entrevista à Folha, Saramago explicou que seu novo romance foi concebido há muito tempo, em 1999, mas que, apenas no último ano, quando esteve entre a vida e a morte, ele recebeu seu ponto final. 

Fragilizado
Saramago ainda se recupera de uma grave doença respiratória, que quase o levou embora no ano passado. Na dedicatória de "A Viagem do Elefante", ele homenageia quem parece tê-lo salvo do pior: "A Pilar, que não deixou que eu morresse".
Pilar é a jornalista espanhola com quem está casado há mais de duas décadas. Mais jovem do que ele 28 anos, é ela quem organiza seus dias, vigia o que sai na imprensa e cada passo de lançamentos e entrevistas do marido mundo afora.
Mesmo fragilizado, ele continua com a agenda cheia. Fala, viaja e mantém um blog (caderno.josesaramago.org). O casal passa temporadas em Lisboa, mas mora mesmo na ilha de Lanzarote, no arquipélago das Canárias, na Espanha.
"A Viagem do Elefante" parte de um episódio verídico e inusitado. Em 1551, o rei português dom João 3º deu de presente ao arquiduque da Áustria um elefante indiano.
Uma caravana, que literalmente caminhava a passo de elefante, atravessou então boa parte da Europa para entregar o animal a seu destino, causando sensação nos povoados ao longo do caminho.
Afinal, tratava-se de um animal que as pessoas, na época, sequer sabiam como era.
Na comitiva, iam um comandante, um tratador de elefantes, soldados e bois. Homens e animais se observam o tempo todo ao longo da narrativa. "Quis usar o elefante como metáfora da vida humana. Os homens não entendiam bem as reações e os sentimentos do animal, mas também talvez porque não entendessem os seus mesmos", diz o escritor.
Partindo de um exemplo da realidade histórica, Saramago aproxima-se do tipo de romances que escreveu nos anos 80, como "O Ano da Morte de Ricardo Reis" ou "História do Cerco de Lisboa".
Por outro lado, o livro é também uma grande fábula, como os que vieram a partir da década seguinte, como "As Intermitências da Morte", "A Caverna" ou o já citado "Ensaio sobre a Cegueira". 

José Saramago com sua esposa Pilar

Igreja e capital
A obra traz provocações a seus inimigos de costume. Entre eles, a igreja. Num dado momento, a população de uma aldeia alerta o cura local de que algumas pessoas andavam dizendo que o elefante que por ali passava era uma representação de Deus, segundo os indianos. O padre resolve, então, exorcizar o elefante.
"A igreja, que, para efeitos propagandísticos, cultiva a modéstia e a humildade, nos comportamentos age com um orgulho sem limite. Por isso criei esse padre, que quer exorcizar um elefante, como se fosse possível imaginar o que vai ali pela cabeça do bicho e, por analogia, o que vai pela cabeça de um homem comum."
Já contra o capital, Saramago hoje posa com segurança devido ao cenário de crise global. "Algumas pessoas, entre as quais me incluo, já vínhamos avisando que algo assim ia acontecer. E agora o que vemos? Que aconteceu mesmo!"
A esquerda, porém, para ele, não tem como dar respostas à tragédia. "Não dá nem para dizer que há em processo a elaboração de uma alternativa." 

Ortografia
Apesar de não querer saber de mudar seu modo de escrever, Saramago é um defensor do acordo ortográfico firmado entre países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e que começará a entrar em vigor no Brasil em janeiro do ano que vem.
"Ele é necessário, mais para nós do que para vocês. O Brasil é quem lidera o ensino e a divulgação da língua pelo mundo. Temos de nos adaptar, para o nosso próprio bem, para a sobrevivência da nossa cultura."
As novas regras vão afetar principalmente o uso dos acentos agudo e circunflexo, do trema e do hífen. Em Portugal, onde haverá mudanças maiores, houve resistência por parte de intelectuais. "Tenho certeza de que com o tempo verão que a mudança terá sido benéfica." Ele mesmo, porém, diz que não vai mudar sua escrita. "Os que forem revisar meus textos que o façam. Podem republicar meus livros dentro das novas regras, mas não serei eu a aprender, a essa altura da vida, um outro jeito de escrever." 


Além de sua última entrevista para a imprensa brasileira, o site da Folha de São Paulo criou um hotsite em sua homenagem, com galeria de fotos e matérias especiais sobre Saramago.
Confira: http://www1.folha.uol.com.br/especial/2010/josesaramago/



Texto: Fernanda Duarte
Postado por: Ana Carolina Eloy

domingo, 15 de maio de 2011

Tim Maia inédito

Sebastião Rodrigues Maia é o seu nome de batismo, mas ficou conhecido mesmo como Tim Maia, era dono de uma voz rouca e potente, foi um dos pioneiros da música Soul no Brasil, características de uma personalidade marcante e de atitudes polêmicas. Assim era Tim Maia, um talento sem medições para a música e para as confusões.

De uma longa entrevista, só um trecho muito pequeno havia sido publicado. Durante a conversa, em 1995, o cantor não poupou ninguém. Sobrou para Roberto Marinho, Boni, Jorge Ben Jor, Roberto Carlos, Fausto Silva, Silvio Santos, João Gilberto, Marisa Monte, Lulu Santos, Sandra de Sá, Ed Motta, Fernando Gabeira, Jair Rodrigues, o Santo Daime e até para a própria banda



Marcio Gaspar

Era o início do primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso como presidente. O Plano Real completava um ano, com governo e população comemorando a queda da inflação − de 40% para os então quase inacreditáveis 2% ao mês; o real em paridade com o dólar e a consequente farra da classe média no exterior. Era 1995 e a música brasileira chorava a recente perda de Tom Jobim (em dezembro de 1994), enquanto os Mamonas Assassinas dominavam o rádio e a TV. Em um apart-hotel dos Jardins, em São Paulo, Tim Maia recebia os jornalistas Marcio Gaspar e Lauro Lisboa Garcia para uma entrevista cujo mote era o lançamento do disco Nova Era Glacial. Lauro, repórter do "Caderno 2" de O Estado de S. Paulo, que publicaria poucos dias depois alguns trechos da conversa; e Marcio, da Qualis, efêmera revista especializada em música, que fecharia suas portas antes da publicação da entrevista.

A maior parte da memorável conversa com Tim Maia, que morreria três anos depois (em 15 de março de 1998, aos 56 anos), permanecia inédita até agora. É possível ouvir trechos da entrevista no www.revistabrasileiros.com.br e no blog www.afroencias.com.br. Os jornalistas encontraram um Tim Maia surpreendentemente bem disposto às 9 horas daquela manhã. E como era de seu feitio, o cantor não mediu as palavras. Além do imenso talento musical, a autenticidade de Tim Maia era outra de suas melhores qualidades.



Marcio Gaspar - Que história é essa de acordar tão cedo? Nova fase, bem mais saudável?
Tim Maia - Não, sempre acordei cedo. Mas agora, tô acordando cedo mesmo porque... eu acho que isso é negócio de velhice, sabia? Que nem galo. Galo velho empoleira cedo, né? E acorda mais cedo. Acho que é isso, deve ser a idade. Eu sempre acordei cedo... às vezes, nem dormia (risos).

M.G. - Você costuma ouvir seus discos antigos?
T.M. - Tô ouvindo agora... É o maior barato, sabia? Como sou um cara que sempre grava músicas falando de algo que aconteceu, aí dá pra lembrar. Lembrar das "cumadizinhas", dos momentos legais e dos momentos tristes também.

M.G. - Entre esses discos, qual você acha o mais legal?
T.M. - O cantado em inglês (Tim Maia, 1978) é o que eu gosto mais.

Lauro Lisboa Garcia - Nesse novo disco, você gravou "Corcovado" e "Meditação" em inglês, e já tinha gravado as duas em português. Por que gravar em inglês?
T.M. - Foi uma homenagem ao Antonio Carlos Jobim. Essa versão que está saindo aí tem cinco anos. A voz em português, gravei em cima da voz que havia colocado em inglês. É essa aí, no Tim Maia Bossa Nova. Eu tenho isso em CD também, mas lancei pela Vitória Régia (selo do próprio Tim). Foi o único disco que não dei pra Continental. Aquilo ali é minha aposentadoria, entendeu?

L.L.G. - Vendeu bem esse disco?
T.M. - Vendeu. Eu sempre digo que vendeu menos, que nem as gravadoras falam pra não pagar direitos autorais. Eu também digo que vendeu menos. E não tem jeito de provar, né? Nem eles.

M.G. - Quantos discos você calcula que já vendeu até hoje?
T.M. - Acho que bem menos que Chitãozinho e Xororó, viu? O Roberto (Carlos) também vende mais. Mas, mais ou menos que nem Jorge Ben, Fábio Jr., a gente vende assim, igual, na mesma base. Cem mil discos, cada disco. Ainda bem.

M.G. - Aquela fase da BMG vendeu pra caramba, né?
T.M. - Não. Vendeu mais ou menos porque a BMG é que nem aquele produto, Denorex (xampu anticaspa): "É, mas não é". A BMG faz mais disco pra outras pessoas. Aquela fábrica de discos que fabrica para outros, já não é mais aquela coisa do idealismo... Quer dizer, idealismo artístico nenhuma delas tem mais.

L.L.G. - Tim, como ficaram os seus direitos em relação aos discos que você produziu pela Seroma (a editora do cantor)?
T.M. - Olha bem, esses discos que estão sendo lançados pela Continental/Warner são discos que eu autorizei e estou ganhando uma mínima porcentagem, aquele levadinho que a gente ganha sempre. A Polygram lançou sem autorização. Eu tô com duas ações contra a Polygram. Uma pro primeiro disco, aquele A Arte não sei quê (A Arte de Tim Maia, 1988). E agora, onze CDs... Eles lançaram um CD meu agora..., meu não, nosso, é do Cassiano, Hyldon e eu. São os "reis do grilo". Esse disco devia se chamar "Os reis do grilo", porque eu sou o rei do grilo, o Cassiano é o deus do grilo e o Hyldon é o grilo (gargalhadas). E agora, lançaram mais um grilado também, botaram mais um: Luiz Melodia. Aliás, esse CD - foi disco e virou CD -, Tim Maia, Hyldon e Cassiano, tem na capa uma fotografia de natureza. Interessante... acho que acharam a gente feio demais, acharam parecido com assaltante. Sei que, porra... não colocaram nem a cara da gente, achei aquilo tão... a Polygram... eles fazem isso. A Sony Music também. A Sony pegou agora uns direitos que tinha que pagar para a Seroma e pagou diretamente aos compositores, o Michel e o Gilson (Mendonça, autores de "Descobridor dos Sete Mares"). Pô, deu mó confusão, tive de acionar eles também, briguei com os compositores. Logo após, o Lulu Santos grava a mesma música, estoura. Washington Olivetto colocou num negócio da Rider aí, tocou. É muito relativo isso, entendeu?

L.L.G. - Mas, você não achou ruim o Lulu Santos regravar "Descobridor dos Sete Mares", né? Você já tinha gravado uma música dele ("Como uma Onda")...

T.M. - Não, não. Quer dizer, esse lance da W/Brasil era isso: eu gravaria uma música do Lulu Santos, depois ele gravaria uma música minha. Só que o Washington escolheu essa música e não procurou saber se a música era minha ou não. A música é de Gilson e Michel. Aí, deu uma confusão e eu já tava em atrito com eles, né? Devido a uma gravação da Deborah Blond, Bland, Blondor...

M.G. - Deborah Blando.
T.M. - Deborah Blando. Ela gravou essa música num disco promocional da Coca-Cola, que vendeu cem mil cópias e criou lá R$ 13 mil, R$ 15 mil de direitos. Eles teriam de pagar pra mim os R$ 15 mil para eu tirar meus 25% da editora e pagar aos compositores. Aí, eles pagaram direto. Aconteceu a mesma coisa com a Som Livre, na música "Paixão Antiga", que é do Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle. Então, tem esse lance do desrespeito das gravadoras com os compositores e artistas. Por isso, eu tô acionando o Bonifácio Sobrinho (Boni, então diretor de programação da Rede Globo). E em todas as ações que estamos movendo contra o Bonifácio Sobrinho, o senhor Roberto Marinho está sendo arrolado.

M.G. - Você está banido da Globo?
T.M. - Eu acho que eles tentaram me banir por algum tempo, mas agora não vai acontecer mais porque eu cheguei à conclusão que tenho de lutar pelos meus direitos. Eu quero que isso seja um exemplo pra outros artistas. Tô movendo uma ação criminal e uma ação cível contra o Bonifácio Sobrinho. Porém, eu me comuniquei com ele antes, dizendo que nós iríamos mover a ação, como se faz. É de praxe você chegar e diplomaticamente avisar o cara: "Ou dá ou desce!", entendeu? Mandei uma carta pra ele; ele não falou nada. A mesma carta nós endereçamos pro Roberto Marinho; ele também não falou nada. Aí, mandamos uma outra carta... Todas essas cartas, registramos em cartório, pra valer na ordem judicial também. Eles não deram a mínima. Então, agora estamos entrando com uma ação cível e uma criminal. Porque eu acho que o que ele tá fazendo é crime, entendeu? Tá me boicotando. E é um boicote assim vitalício, sacumé? Não é um boicote tipo: "Você não vai cantar aqui durante três meses porque você nos sacaneou". Eles alegam que eu não fui no programa do Fausto Silva e isso tira a moral dele... Não tira, ele é um ditador. O Boni é um ditador. Ele pode me acionar por eu estar chamando ele de ditador, mas tudo bem. O Mariozinho Rocha (na época, diretor musical da Rede Globo) já me acionou duas vezes. Me acionou criminalmente porque eu falei que ele recebia R$ 10 mil por cada música que se coloca na novela. Aí, um cara lá do Jornal do Brasil - eu sempre me esqueço o nome dele, o filho da puta do... - me perguntou: "É verdade que o Mariozinho recebe dez?"; falei: "Não, recebe quinze!" (gargalhada). Quer dizer, eu vou acionar eles pra acabar com essa farsa, com essa mentira, que o mundo todo sabe que todo mundo recebe jabaculê no Brasil, né?

M.G. - Mas ninguém fala.
T.M. - É aquele negócio da minha música ("Nova Era Glacial"), né? "Todo mundo sabe, mas ninguém quer dizer." Então, por exemplo, o Lauro tava falando: "Pô, você lançou esse disco (Voltou Clarear, 1994) meio na incógnita, meio na moita".

L.L.G. - Não, é que o disco saiu e não teve grande repercussão.
T.M. - Não teve nada de repercussão porque... você vê a coisa? Essa música ("Voltou Clarear") tá tendo a maior repercussão nos shows. O apelido dessa música é "melô do último a saber". Acho que todo mundo se identifica com esse negócio de corno; o brasileiro é o rei do chifre. As mulheres, principalmente, se identificam, porque são chifradas também, né? Essa música não tocou porque não paguei jabá pra ninguém. Inclusive, a música anterior, "Como uma Onda", tocou pra cacete. Aí que eu fiquei sabendo também quanto custa o jabaculê, né? Os jabás são fortes, cara...

L.L.G. - De rádio?
T.M. - Rádio... rádios que nem tinham isso vivem exclusivamente de jabaculê. Porque não é a rádio que vive. Quem vive disso são os programadores e os próprios locutores de cada horário. Acho que o dono da rádio nem ganha nenhum tostão com isso..., mas é demais, cara. Tem rádio que pede R$ 40 mil por uma música.

L.L.G. - Pra tocar por quanto tempo?
T.M. - Um mês. Trinta dias, quarenta mil reais. Mas aí, estoura a música, né? Porque ele executa dez vezes por dia, aquela porra "nhem, nhem, nhem" no ouvido do cara... Nas televisões, a mesmíssima coisa. É jabá pra todo mundo... O Silvio Santos tem menos. Acho que os programas dele são muito ruins, então não dá pra ele, entendeu (gargalhadas)? O Silvio Santos é ruim demais. O Show do Silvio Santos, meu amigo... Outra coisa que eu gostaria de falar, quero mandar um recado pro Caçulinha. O Caçulinha tinha um conjunto maravilhoso no Canal 7; porra, acompanhava aqueles artistas todinhos: Elis Regina, Jair Rodrigues, esse pessoal todinho. Pô, um cara muito simpático... o Caçulinha é super benquisto no meio artístico. Não sei por que ele atura aquilo, cara! Agora, colocaram ele com um negócio de chifre, já viu? Tem um chifre na cabeça dele, cara! Você não viu não? Uma vez, botaram ele na geladeira, não sei se você viu, botaram na geladeira! É, um pinguim na geladeira,com aquele pianinho. E fica o Faustão, o programa inteirinho sacaneando o "coiso"... E ele mesmo não toca nada naquele programa! Tem uma hora que ele faz: "Toca, Caçulinha"! (imitando o Fausto Silva): "Ó o nariz do Caçulinha! O Caçulinha é um babaca!". O Caçulinha é o saco de esporro, o saco de pancada... Pô, por quê? Gostaria até de convidar o Caçulinha pra tocar com a gente na banda Vitória Régia; a gente arruma uma sanfoninha pra ele, pode até vir com o pianinho dele, coitado... Ele não precisa daquilo, é um cara de renome! Antes do Fausto Silva chegar, o Caçulinha já estava aí há anos... Acho aquilo tão ridículo... Deviam botar o Bonifácio Sobrinho lá de chifre e o Roberto Marinho dentro da geladeira. Isso eles não fazem. Fica lá o Faustinho puxando o saco do Roberto Marinho. "Oi, seu Robertinho. Como vai, tudo bem? Tudo bem, seu Roberto?" Isso é uma coisa que denigre a imagem de um músico, saca? O músico fica esculachado, o músico é um saco de piadas. Músico é pra tocar música! Não pra ficar ali, sendo motivo de chacota.

M.G. - Você sempre batalhou pelo reconhecimento do músico, sempre exigiu a banda Vitória Régia em todos os seus shows, contratos, créditos, etc. Mas, ao mesmo tempo, se o cara erra num show, você já: "Porra, não sei o quê...". Roupa suja não se deve lavar em casa?
T.M. - É totalmente espontâneo. Não tem nada de esporro, não. É um toque na hora que me fere. Aquilo me fere. Não tem esse negócio de esporro no músico, isso é mais folclore. O lance é mais com técnico de som; o músico, não. Agora, quando tem uma mancadinha... Cara, isso é totalmente espontâneo.

M.G. - É que você toca tudo também, né?
T.M. - Toco uns instrumentozinhos. Hoje mesmo estamos com um problema aqui pra programar uma bateria, que é mó merda. Temos que programar uma bateria porque o baterista "sartou de banda"... Esses esporros todinhos que eu dei em músico não chegam nem à milésima parte que cada um fez comigo. Oito músicos me acionaram! Só um me levou R$ 117 mil, de uma vez só! Cento e doze mil reais porque eu perdi a causa, mais cinco de FGH... FG... FGTS. Outro, que é trompetista, é sargento dos bombeiros até hoje, me acionou também e já levou R$ 100 mil. Tentei lutar e tudo mais... E teve um bebum que chegou agora. Entrou ano passado, totalmente bêbado, caído na vala... e eu ainda gastei R$ 5 mil com o advogado do cara. Tem de ver os advogados! Eles achacam mais que os próprios caras! Aí, o advogado chega: "Vai dar cinquinho". Cinquinho, filho?! "Você sabe como é que é." Eu fui acionado por oito músicos! Eu falava com a mãe de um deles no telefone: "Oi, como vai a senhora?"; (fazendo voz de mulher) "Oi, Tim Maia! Toma conta do meu filho". "Pois não, minha senhora. Se a senhora soubesse... já tinha matado e entregado num caixãozinho: seu filho tá aí, eu tomei conta dele." Tinha outro, trombonista, que eu levava o filho em casa. Me acionaram...

M.G. - Mas tem também aqueles que estão com você há bastante tempo, né?
T.M. - Agora não tem mais. Só tem o Chumbinho (Paulo Roberto, baixista), porque o Tinho (João Batista Martins, saxofonista), que estava há dez anos, saiu semana passada. Porque tinha o show do Tim e tinha o show do Tinho. Isso é um problema, sabe? Músico... raro é o músico amigo, entendeu? Por exemplo, vou gravar com Os Cariocas agora, semana que vem. Os Cariocas... trinta anos cantando juntos. Cantam porque gostam de cantar, sabe? Eles ensaiam o dia inteiro. Trinta anos juntos e aquele negócio ali, tudo por música. Não é de mentira não, é tudo por música, coisa seriíssima, cara! Isso é músico, entendeu? E tem gente que toca há não sei quantos anos... por exemplo, o caso do Caçulinha. É um ótimo músico, mas não evoluiu porque só agora começou a comprar uns tecladinhos. Mas também, como é que faz? Se sujeita a um negócio daqueles...

L.L.G. - E o público da televisão acaba nem sabendo o valor que ele tem.
T.M. - É, ele toca bem, é um cara musical pra caralho. Então... o negócio do músico é relativo pra caramba, entendeu? Tem uma amiga minha que fala que músico, advogado e pedreiro é foda (gargalhada). E é verdade, cara! E o único que trabalha deles - mas que enrola um pouco - é o pedreiro. Porque esse ainda faz, pelo menos, o cara faz. Te enrola, mas é uma pessoa humilde, que quer te dar uma facadinha a mais porque você tem mais que ele, né? Mas, advogado e músico, meu filho... Outro dia, numa matéria o cara perguntou: "E o negócio dos advogados, como é que você faz?". "Ah, tô com três agora. Eu mando um, outro pra vigiar aquele e aquele pra vigiar o que eu mandei depois." Pô, os caras ficaram putos comigo lá no Rio! A Ordem dos Advogados falou: "Ô, Tim Maia, que negócio é esse, rapaz? Você faz uma declaração dessa, é brincadeira". Mando logo três. E mesmo assim, ainda é bem difícil.

M.G. - Você vai fazer seu songbook ou ainda acha que isso é pé na cova?
T.M. - É meio, né? Songbook não é tanto não, mas biografia... É que nem aquele especial da Globo que tinha antigamente. Quando o cara já tava bem baleado, a Globo fazia um especial com o cara. Aí, semana que vem o cara, bum!. Aí solta o especial, né? O cara morreu uma semana antes, deve estar fresquinho...

M.G. - Como você entrou naquela história da seita Cultura Racional, do livro Universo em Desencanto?
T.M. - Fase mística, né (risos)? Tomei cinquenta mescalinas e queria ser sócio de São Francisco de Assis (gargalhadas), paz e amor, aquele negócio de hippie: todo mundo ia a pé pra Bahia, aquele negócio "paz e amor, muito LSD"... Eu entrei naquela pra tomar umas mescalinas. Papei cinquenta. Aí, viajei pra cacete e no meio da viagem falei: "Ah, vou virar pra Jesus, Ave Maria" (gargalhadas)... Aí, entrei nessa. A Cultura Racional falava que era uma preparação para a gente entrar em contato com os seres extraterrenos. Eu, como gosto de negócio de ufologia... Sou ligado nessas desde garoto e entrei naquela lá pra ver se era isso mesmo, mas não era. Era um negócio de espiritismo, entendeu? Tinha outros artistas: Jackson do Pandeiro, até o Procópio Ferreira, coitado, antes de falecer, entrou na onda do Universo em Desencanto. Aquilo é uma loucura... O Lúcio Mauro, um bocado de artista, sabe? Altamiro Carrilho... Todo mundo na jogada.

M.G. - Você não acha que você deve atrair quem quer armar pra cima de você por causa da fama de maluco?
T.M. - Claro, justamente. Eles pensam que a gente tá dormindo, mas tá sempre acordado. Existem vários empresários que já armaram pra ganhar dinheiro comigo. Teve um empresário uma vez, em Campinas, que na hora de entrar no palco, ele falou: "Tim Maia, é o seguinte, aí" - naquela época o show era duzentos, não sei o que era, mas era duzentos - "te dou cenzinho agora e tu volta pro hotel...". Eu: "Tu tá maluco, cara? São quatro da manhã!". Nesse dia, foram 32 mulheres pro hospital e nós fomos retirados lá do ginásio no tal do tático móvel. Pessoal muito educado que vai chegando assim: "Filho da puta!". Isso é o mínimo que eles falam, né? Era tudo preto ainda. "Vai, crioulo filho da puta!" E isso tudo com um cassetete que dá choque. Eles encostam o cassetete na pessoa e "tchen!". Mas nós fomos retirados desse clube por um tático móvel, às cinco horas da manhã, porque teve uma porrada geral no clube, porque o cara armou duzentos e no final queria cenzinho, metade do cachê. Tem uns caras de show aí que são meus amigos até hoje, mas que fizeram um boato que porra... Minha mãe ainda era viva, foi mó problema, minha mãe passou mal. Disseram que eu tava com câncer no cérebro. As pessoas ligavam pra minha casa, uma loucura, até o dia que me mataram mesmo: "Tim Maia morreu". Falaram pra minha irmã: "A senhora sabia que seu irmão faleceu?". (Ela): "Meu irmão tá dormindo aqui, doidão!". Tem essse folclore que é uma merda. É que nem aquele negócio de dar esporro nos músicos. O que os músicos arrumaram de confusão ninguém fala. Eles já me levaram quase R$ 400 mil, cara. Troço pra você comprar três apartamentos. O meu carro é um Monza, cara. Poderia estar com um Mitsubishi 446, um BMW, blá blá blá, e tô pagando músico, R$ 100 mil cada um. Esse dos R$ 117 mil foi foda. Sabe o que é o cara te levar R$ 117 mil? Dinheiro que eu economizei minha vida inteira! Fui acionado por oito músicos. Eu tentei tudo. Sabe o que eles falaram pra mim? "Tim Maia, você perdeu o prazo." Prazo?! Tinha vez de ter dois julgamentos numa tarde só. Tinha de arrumar dois advogados...

L.L.G. - Seis, no caso, né?
T.M. - Seis! Só com esse processo aí dos músicos, eu já me envolvi com uns 12 advogados. A gente vai tentando empurrar com a barriga, né? Mas não tem jeito.

L.L.G. - Você tem composto mais. Queria que falasse um pouco dessas últimas músicas e principalmente dessa "Nova Era Glacial".
T.M. - "Nova Era Glacial" é uma música que fala sobre uma possível ou provável era glacial. Acredito que vai esfriar porque a gente vê as notícias aí e nota que o negócio tá mudando. Eu acho que nós estamos entrando numa nova era glacial. Existe até uma polêmica entre os cientistas aí: uns dizem que a Terra está esquentando. Mas eu acho que está esfriando. Esse aquecimento é justamente um aquecimento pra vir o frio. E parece que o negócio vai esfriar mesmo. Não sei daqui a quanto tempo, entendeu? É nesse milênio agora. Eu não tô prevendo nada, mas "derrepentemente" nesse milênio eu tenho certeza que vai ter uma nova era glacial. Mas tem tempo pra caralho.

L.L.G. - De onde você concluiu isso?
T.M. - Os cientistas, esses arqueólogos, esse pessoal aí, acham que nós já passamos por uma era glacial. Outros dizem que passamos por... Eu acredito que nós já passamos por umas quatro ou mais, devido ao tempo que o mundo tem. O ser humano tem 60 mil anos. A Terra tem quatro bilhões. Então, eu acredito que nós já passamos por várias eras glaciais, dilúvio, Arca de Noé. Arca de Noé foi um grande dilúvio, né? E me parece que está acontecendo a mesma coisa. Esse efeito estufa, esse negócio de camada de ozônio, sabe como é que é? Isso tá esquentando pra depois esfriar. Eu acredito que seja isso. É uma coisa intuitiva, né? Mas também muitas pessoas defendem essa tese; não sou eu só. Existem milhares de cientistas que acreditam que o mundo está entrando numa nova era glacial.

L.L.G. - Você tem interesse por ciência?

T.M. - Meu interesse é totalmente ufológico, transcendental. Eu não tenho interesse por nada daqui. Acho que aqui tá muito confuso... Eu tava falando ontem aqui com outros repórteres de uma outra revista aí, que existem seres intraterrenos, cara. Isso aí é comprovado, isso aí todo mundo sabe. Existem seres que habitam o centro da Terra. Existem pessoas que acreditam em astrologia, essas coisas que não têm nada a ver. Astrologia não tem nada a ver com nada! Porra, astrologia é uma coisa árabe, eles olharam para as estrelas e concluíram que não sei que lá, não sei que lá, baseados em quê, cara? Que a Terra seria o centro do Universo. Aí, viram que não é nada disso, é apenas um Roberto Marinho, um Paulo Maluf, um Roberto Carlos, um Tim Maia, um Maguila, é um ninho onde moram essas coisas, essas pessoas. Pô, Erasmo Carlos, esses negócios assim. É um ninhozinho, um negocinho, uma bolinha onde moram esses bobões aí. E o troço é grande. Eu falei aqui ontem disso para os repórteres: nós somos visitados por noventa seres diferentes, de diversas galáxias, diversas dimensões e existem outras coisas! Existem seres do futuro, mas aí já é uma outra coisa. O que eu tô falando é coisa atual, seres extraterrenos de outras galáxias. E seres que vêm da nossa própria Terra, que habitam o centro da Terra. Eles se chamam os lunares. São seres brancos porque eles não veem o Sol. O que não é verdade mesmo é tomar ayahuasca e dizer que é Santo Daime - isso aí é mó mentira, viu (risos)? É ayahuasca mesmo, aquilo é mó viagem! Sorvete vira beterraba, helicóptero vira máquina de passar roupa, morou? E dão pra criança. Isso aí, não. Faz um mal tremendo ao fígado! Pior troço que tem pro fígado é a chacrona, que eles chamam de Santo Daime. De Santo, o Daime não tem nada! Chama-se ayahuasca, os índios adoram! Toma aquela porra, fica viajando pra caralho. Aí, isso não tem nada a ver com a realidade, isso aí já é uma coisa totalmente mística mesmo - uma erva que faz você viajar, pensando que aqui tá aqui e aqui não tá, tá lá. E fica aquela confusão do cacete. Eu digo assim, conscientemente, caretinha, sem tomar nada, sem nenhum ritual, sem incenso - também não tem incenso - nem batidas de matraca. Então, o negócio é totalmente cosmológico, é verdade mesmo. Eu tava falando pros caras ontem que existem mulheres aí que já transaram com seres estranhos, tem de tudo por aí.

L.L.G. - Eu achei um compacto simples seu, em inglês. Era só Tim. Sem sobrenome. Aquele foi seu primeiro disco?

T.M. - Foi o primeiro, gravado aqui em São Paulo, pela Fermata.

L.L.G. - Isso foi antes de você ir para os Estados Unidos?
T.M. - Não, foi quando eu voltei.

M.G. - Quando você foi pra lá, afinal?
T.M. - Fiquei três anos sem falar uma palavra em português. Eu fui em 1959 e voltei em 1964.

M.G. - Voltou ou foi "voltado", Tim?
T.M. - Fui voltado. Mas já tô bem, tô com quatro anos de visto no meu passaporte, já fui pra lá três vezes depois que fui deportado. Mas fiquei dez anos sem poder voltar. A minha relação com os Estados Unidos é totalmente emocional, sentimental; não tem nada a ver com ganhar dinheiro, com carreira, nada disso. Talvez no futuro...

M.G. - Mas acho que daria o maior pé uma carreira lá, né?
T.M. - Eu acho que daria.

L.L.G. - Você já pensou em lançar esse disco em inglês nos Estados Unidos?
T.M. - Pois é. Esse eu tô regravando pra lançar lá. Já gravei muito em inglês, músicas minhas e de outros, mas gostaria de gravar mais ainda. Além dessas de bossa nova, porque essas da bossa nova... Eles fizeram umas letrinhas assim muito intelectualizadas "quiet nights of quiet stars"... Pô, ninguém fala isso em inglês. O cara fala "baby I love you", "come back to me", "don't go away".

L.L.G. - Dessas que você escolheu pro segundo disco de bossa nova, você vai cantar alguma em inglês?
T.M. - Não, tudo em português. Porque não funciona isso. Tem de ser em português aqui e em inglês pra eles lá fora.

L.L.G. - Você disse também que queria evitar gravar músicas que o João Gilberto já tivesse gravado. É isso?
T.M. - Não, isso é brincadeira, é só sacanagem. Eu acho o João Gilberto um excelente músico e cantor, mas de personalidade, acho ele assim... quatro-quatro-meia. Quatro-quatro meia é uma fração; 4,46, não chega a ser cinco. Tá entre o quatro e o cinco - quatro-quatro-meia.

M.G. - Como rolou o lance de gravar com a Elis?

T.M. - Com a Elis Regina, eu já havia gravado dois compactos. E o Erasmo, a Rita, o Serginho e o Arnaldo, dos Mutantes, me levaram pra Polygram. Quando eu cheguei lá, o pessoal já me conhecia, já sabia o jeito que eu cantava, eu já tava com as músicas prontas, já tinha rolado o lance com o Cassiano. Tanto é que eu gravei "Primavera" em agosto de 1969 e tentei de tudo pra soltar o disco na primavera, mas saiu em janeiro de 1970. Aí, aquele puta janeiro fervendo e eu cantando "É primavera..." a 40 graus. Mas aí estourou. Quando estourou, o pessoal da gravadora me chamou: "Tim Maia, rápido, vamos gravar um LP". Aquela coisa de gravadora, né?

L.L.G. - Daí, desse primeiro LP, tocou praticamente tudo.
T.M. - No Rio de Janeiro, ficamos 22 semanas em primeiro lugar. Por isso, eu acho que vendi mais do que 200 mil.

M.G. - E daí pintou a gravação com a Elis?
T.M. - Foi uma armação do Nelson Motta, do falecido Ronaldo Bôscoli, do Miele... saiu no disco dela. Mas uma coisa que eu não achei legal, e que ainda vem um monte de gente hoje me perguntar: "Elis Regina te lançou?" Peraí, eu que lancei Roberto Carlos, como é que pode ela me lançar? Vamos com calma. Mas aí saíram com essa: "Elis Regina lança Tim Maia". Isso foi uma armação, mas ela não teve nada com isso. Eu gostava muito dela e sinto que poderia ter gravado mais coisas com ela. Ela era muito musical, era musical demais... Até hoje falo: pra mim, a melhor mesmo foi Elis. A Rosana canta bem também, mas a Rosana é muito perturbada, muito confusa, pôs silicone até no... É a rainha do silicone. E tão bonita, tão gostosa... A Rosana canta bem, a Jane Duboc canta mais ou menos, mas é muito inibida, aquela menina, a Cláudia, cantava bem, mas excedia. A Elis Regina, não; ela ia no ponto mesmo. E tinha uma cabeça legal, inteligente. Mas as pessoas achavam que não. Era aquele negócio: "Ah, é muito temperamental...". Tudo babaca que não tem sentimento nenhum, que não cria porra nenhuma, que não consegue se expressar com nada, quando vê uma pessoa que se expressa... É o tal negócio do Van Gogh: louco, maluco, mas depois o quadro dele tá custando 60 milhões de dólares. Mas na época, quase mataram o cara.

L.L.G. - E a tua opinião a respeito da Marisa Monte?

T.M. - Engraçado, a Marisa Monte tá cantando igualzinho à Gal Costa, não entendi porra nenhuma.

L.L.G. - Mas a Gal do começo de carreira, né?
T.M. - É. Uma vez eu ouvi a Marisa Monte e parecia a Zizi Possi, daí eu conheci a Marisa, fizemos até amizade. Não é que eu tô magoado com ela, mas olha: o "Chocolate", ela gravou, canta nos shows, mas fez um negócio que eu não gostei, ela canta "não quero cocaína, me liguei...", não tem nada a ver, a música não tem isso. O Lulu Santos também botou Porto de Galinhas (na "Descobridor dos Sete Mares") onde não tinha Porto de Galinhas porra nenhuma, eles modificam totalmente. Eu acho que, quando você se propõe a gravar uma música de uma pessoa, inclusive quando aquela música já foi gravada, você tem de obedecer aquele critério, aquela forma, senão fica uma coisa...

M.G. - Aliás, você mudou uma palavra na "Aquarela do Brasil"...
T.M. - Só se eu errei..., também, é letra pra cacete. Eu não sei onde esse rapaz tava com a cabeça quando fez essa letra. "O coqueiro que dá coco" é demais, né? Vai dar o quê? Laranja? O Ari Barroso ... que Deus o tenha em bom lugar.

L.L.G. - Tim, esse disco de bossa nova saiu faz menos de um ano, agora você está lançando outro e tem mais dois em projeto para esse ano?
T.M. - Olha, eu sou diretor-presidente da Vitória Régia Discos, a única que paga aos domingos após as 21 horas. Eu sou o único artista da casa, então não tem jeito... Eu gostaria de ter o Stevie Wonder com a gente também, mas...

L.L.G. - Ah, o Ray Charles está vindo aí agora. Convida ele...
T.M. - Mas ele tá vendendo pouco disco. Prefiro o Leandro e Leonardo, que tão vendendo muito mais (risos).

M.G. - Tim, você era de uma turma, há muito tempo, com Roberto, Erasmo, Jorge Ben e depois de uma outra galera - Cassiano, Hyldon...
T.M. - É, esse é o segundo time.

M.G. - Aquele time anterior se deu bem; o segundo não. Por quê?
T.M. - Bom, aí é aquele negócio: "Por que Tostines vende mais? Porque é fresquinho. E por que é fresquinho? Porque vende mais". Você quer ver uma coisa? Eu fiz outro dia o programa do Jô Soares e brinquei lá com a idade da rapaziada. Depois, disse que teve uma época que o Roberto Carlos andou fumando cachimbo e usava uma capa estranha, enquanto o Erasmo andou querendo entrar na Academia de Letras. Eu falei: "Calma aí que aqui ninguém estudou porra nenhuma, para com esse negócio porque aqui, intelectual ninguém é". Eu disse isso lá no Jô Soares e completei: "A gente não tem curso nenhum, o único que temos, e mesmo assim incompleto, é o curso de datilografia do Colégio Ultra". Daí, no outro dia, liguei pro Jorge Ben e ele tava puto, todo zangadinho. Eu perguntei: "O que aconteceu, Jorge?". E ele: "Sabe o que é Tim? É que a minha tia assistiu o Jô Soares e me disse que você falou mal de mim". Eu falei: "Mas o que é isso rapaz, eu nunca falei mal de você, que babaquice". Daí, eu chamei a mulher dele no telefone, a Domingas, e ela me disse: "Não Tim, não liga não, isso aí é a tia do Jorge que é muito fofoqueira...". Daí, eu descobri que ele tava puto era com o lance da idade que eu falei. Porque ele diz que tem 46... se ele tem 46, eu tenho 38. O que eu queria explicar é que o Jorge Ben não fazia parte da nossa turma, da primeira. Eu conheci ele um pouco depois. Mas eu acho que ele se grilou porque eu falei que a gente não tinha cultura. E ele também não tem mesmo, não estudou porra nenhuma...

L.L.G. - Você e o Jorge Ben ressurgiram meio que juntos, uns três anos atrás...
T.M. - Não, isso também é uma outra coisa que eu quero retificar. Nós não ressurgimos, ele é que ressurgiu. Eu só não tava na mídia, não tava na Globo. Eu dou esse exemplo: fiz cinco anos de Chic Show aqui em São Paulo, dois shows por ano. Teve vez que colocamos 23 mil pessoas lá no Palmeiras, teve uma outra que quebraram não sei o quê lá e o cara nem queria mais alugar pro Tião do Chic Show. Depois, eu gravei com a Sandra de Sá e ia fazer um show com ela. Mas ela tava meio estrela, não apareceu, e eu tomei o maior preju por causa do Marcos Lázaro. Agora tem o tal do (Manoel) Poladian. A cada hora pia um, e tudo com esses nomes esquisitos, não tem nenhum Pereira ou Silva. Lázaro, Poladian... Eu fiquei sabendo uma do Poladian que é demais: ele leva um ônibus cheio de cambista. Chega no local, ele mesmo compra os ingressos e daí vende pelo triplo do preço.

L.L.G. - Eu relacionei você com o Jorge porque tem um disco seu que está sendo relançado agora que tem várias músicas no estilo discoteque. Agora, o Jorge está regravando sucessos antigos dele com estilo dance music. Você chegou a ouvir isso?
T.M. - Eu acho uma tremenda besteira o que eles estão fazendo. Isso não tá com nada. A pipoca tá na mão, todo mundo quer pipoca... Calça Lee tá na moda, todo mundo quer calça Lee... E aí, numa dessa, o cara pode se queimar, o Jorge Ben pode se queimar. Porque a música dele não tem nada a ver com house, a música dele já é uma house normal e todo mundo dança normal, não precisa botar um bumbão lá, um bate-estaca pra fazer alguma coisa. Um cara me propôs isso, mas eu disse: "Solta o 'Nova Era Glacial' aí a todo vapor e vamos ver se não vai todo mundo pra pista". Não precisa tum-tum-tum pra imitar americano mais ainda e com algo que tira a musicalidade da coisa. Eu já podia ter feito isso, já me convidaram pra fazer isso. Numa matéria que eu li no jornal ontem, o Lulu Santos tava me elogiando: "O Tim Maia é o maior". Obrigado, muito obrigado. Daí fala o cara, o tal do DJ Memê. Ó o nome do cara: Memê. E ele manda o seguinte: "Ah eu gosto do Tim Maia, sempre fui fã dele, mas agora ele deu de cantar essas músicas brega...". E eu pensei xiii... olha o cara, olha o Memê... ele toca o que mesmo? Toca oboé, toca tímpano, toca violino?

M.G. - Ele toca toca-discos.
T.M. - É, ele toca toca-discos. Toca disco ao contrário. Estudou pra cacete, se concentrou pra fazer aquele nhé-nhé-nhé... Como é que um Memê desses vai falar da gente? Eu lancei o Roberto Carlos, fiz um monte de coisa, um monte de parada aí, altas jogadas. Esse é o cara que tá com o Lulu Santos. Quer dizer, eu também já tô achando que o Lulu Santos tá indo prum caminho... Tem de tomar cuidado. Já tá velho, tá de cabelo branco... Esse negócio de funk, de house, deixa pros outros. E outra coisa: esse negócio de funk brasileiro... O rap brasileiro é uma vergonha. Principalmente o rap carioca, mas o paulista também. Imita o americano, fica aquele negão fazendo aquelas coisas (cantarola um típico "funk-falado" carioca). Isso é funk? Isso é rap? O rap é cheio de agá, o rap na verdade é jamaicano e é muito além do que é feito aqui. Por isso que eu acho que o Brasil está precisando urgentemente de cursos de música, de escolas de música. Outra coisa que eu gostaria de falar é que o Brasil está precisando urgentemente de uma universidade para pretos, para negros, uma universidade afro-brasileira. Porque nós temos universidade de tudo que é jeito aí, universidade de padre, universidade de bispo Macedo, precisamos da universidade para negros. Pode entrar branco e japonês também, sem discriminação, mas dando prioridade ao negro. Porque preto não tem como, não tem onde estudar, ele não passa do primeiro grau. Então, eu acho que no Brasil, em lugares diferentes, tem de ter a universidade afro-brasileira. Isso é um grilo do cacete, tem de botar o preto pra estudar; senão, a gente vai ficar sempre por baixo. A Globo, agora, bota lá o (Antônio) Pitanga na novela, aquela família preta, mas não tem nada a ver, continua a discriminação indireta.

M.G. - Você falou aí do Roberto Carlos... Você não acha que estava na hora de ele se tocar e gravar um disco novo, ao invés de ficar repetindo o mesmo há dez anos?
T.M. - Mas eu acho que o Roberto Carlos tá certo. Ele tá aí há trinta anos fazendo sucesso. E a minha mãe gostava dele demais. Até a minha mãe falecer, ele ligou pra ela todo Natal, fazia aquela média, ele conhece meus irmãos todinhos, minhas irmãs, assim como eu também conheço os dele. Nós fomos criados juntos. Por isso, eu achei muito estranho quando eu voltei dos Estados Unidos, ele me deu a maior podada. Porque quando eu voltei, precisava de um apoio. Teve até uma etapa (prisão) que eu puxei lá nos Estados Unidos, de oito meses, por causa de umas cadeirinhas que eu roubei pra uma gravação. A gente ia fazer uma gravação e daí eu fui roubar as cadeiras pra comprar um incentivo pra rapaziada. Mas nem cheguei a comprar o incentivo; já dancei nas cadeiras (risos). Pedi uma ajuda, mas pra quê? Nossa, achei aquilo tão estranho. Eu não conheço os filhos do Roberto Carlos, só conheço a mais velha, a Ana Paula, filha da Nice. Ele também não conhece meus filhos. Eu já tenho neta, ele também.

M.G. - Você tem quantos filhos?
T.M. - Eu tenho três filhos e, agora, uma neta.

M.G. - Algum deles mora com você?
T.M. - Já moraram. Um morou. E o do meio tá sempre na minha casa. Mas o mais novo, não; o mais novo mora com a minha irmã. Ela tomou o meu filho desde criança. Aliás, eu não criei nenhum dos meus três filhos. Só facada mesmo - de 10 mil, de 100 mil -, eu só financio. A minha neta é filha do Zé Carlos, o mais velho. Ela é lindinha, muito bacana. Eu preservo esse negócio de família. Ontem mesmo, tava falando com o filho do Erasmo no telefone... e lembrei uma vez que o Erasmo me deu cinco calças Saint-Tropez, daquelas que aparece a bunda quando você entra no táxi, sabe. Imagina, eu com cento e não sei quantos quilos e com aquela calça... Eu conto sempre isso pro filho do Erasmo, o Gugu. Então, eu sinto esse negócio da família e lamento que pessoas que foram criadas juntas como eu, o Roberto, o Erasmo, um não conheça pessoalmente os filhos do outro. As minhas irmãs adoram eles, a mãe do Ed Motta gosta muito do Roberto.

M.G. - E o Ed Motta, você se dá com ele?
T.M. - Não, não me dou não.

M.G. - Você acha que ele é seu sucessor?
T.M. - Eu acho tão horrível esse negócio de sucessor... Isso é coisa de ditador.

L.L.G. - E herdeiro, pode ser?
T.M. - Isso de herdeiro também é ruim. E ruim inclusive pra ele, porque ele entrou nessa e se deu mal com isso.

L.L.G. - E ele andou falando muito mal de você...
T.M. - Pois é, um troço tão estranho... meu sobrinho, pô.

M.G. - E ele tem talento, né?
T.M. - Tem, ele canta bem. É musical, mas muito enrolado, estranho pra caramba. O Ed parou de falar comigo e eu não gosto muito de falar disso porque eu sou muito amigo da mãe dele, é a minha irmã que eu considero muito.

M.G. - Tim, o Fernando Gabeira está com um projeto de liberar a maconha. Você é a favor ou contra?
T.M. - Sinceramente, cara, o Fernando Gabeira já foi uma coisa, virou outra e agora já é outra totalmente diferente. Quando ele sequestrou aquele embaixador, porra... dei o maior apoio, entendeu? Aí, veio com esse negócio de Partido Verde, já ficou meio quatro-quatro-meia e agora diluiu demais. A maconha já tá liberada, a cocaína e a pena de morte também. Isso já tá liberado no Brasil faz tempo. Quer mais maconha do que no Brasil? O Brasil é o maior produtor de maconha do mundo! Ninguém planta mais maconha do que o Brasil. E Pernambuco é o Estado onde mais se planta maconha no mundo. E o brasileiro é o maior maconheiro do mundo! Alcoólatra também, por excelência, mas queima um fumo violento! Todo brasileiro queima fumo: vai lá no Norte, puta que o pariu, todo mundo gosta... No Sul, também adoram. Todos, todo mundo! Então acho que é uma demagogia do cacete. Poderia se plantar isso aí e colher bons frutos, uma maconha boa, THC bem forte...

M.G. - É, mas ainda tem os coitadinhos que vão em cana só por causa de um baseadinho...
T.M. - É uma estupidez. Mas me parece que o negócio vai liberar mais agora, pelo menos em casa. Tem aquela moça que tá sendo julgada agora lá na Turquia. Ela disse que não sabia que o que deram pra ela era maconha... que ingenuidade (risos). Ela só sabe que o nome do cara era Pedro, mais nada. Quem te deu a maconha? O Pedro. Quem te deu a brizola? O Jorge... mas não sei. E os caras que vieram receber a brizola? Hummm, não sei, não conheço (risos). Coitadinha, tá em maus lençóis. Mas naquele filme, Expresso da Meia-Noite, o cara tá levando cinco quilos de haxixe, e eu pensei que era heroína... O haxixe é a melhor coisa que tem pra acalmar os ânimos, não faz mal pra ninguém, é bom pra glaucoma. Acho uma estupidez, uma demagogia do cacete, proibir fumo, entendeu? O fumo é uma planta, uma coisa natural... Eu fui intimado duas vezes nessa semana, pra ir na polícia. Eu não vou em lugar nenhum. Tem um cara lá que foi preso, deram porrada no cara pra ele dizer que trazia haxixe pra mim. Daí, em juízo, o cara falou que não era nada disso, que levou porrada na delegacia, na 27ª, lá em Brás de Pina, no Rio de Janeiro. Daí, fui intimado e mandei meus advogados lá...

M.G. - Os três, né?
T.M. - Dessa vez foram dois (risos). Mas foram lá pra explicar... Volta e meia tentam me envolver nessas porras aí, cara, e por causa de haxixe. Ainda se fosse cocaína, heroína... mas haxixe? É uma estupidez. THC... cannabis... Proibir a cannabis e liberar o álcool é a maior loucura, uma coisa porca, suja, imunda, mentirosa! Porque o álcool destrói o ser humano em poucos anos, em meses. Se você beber mesmo, o teu figueiredo não aguenta. Eu mesmo, não posso beber mais. E olha que eu não bebia muito, hein? Eu só bebia quando fazia show e quando andava de avião.

M.G. - Mas como você fazia muito show e andava muito de avião... (risos).
T.M. - É, fiz show o ano inteiro, andei de avião o ano inteiro, bebi o ano inteiro (risos). Mas deu um negócio no figueiredo aqui... Não posso beber de jeito nenhum. O Roberto bebe muito mais do que eu, o Erasmo tá tomando três garrafinhas daquelas pequenininhas por dia... Jair Rodrigues bebe muito mais do que eu e, depois, diz que é careta. Mas quer dizer, devido a beber quantidades excessivas, eu quase dancei. Então pô... Eu tenho um amigo que queima fumo há trinta anos e não é viciado ainda (risos).

Postado por Rapha Silva
Pauta Rapha Silva e Paula Porto
Fonte: Revista Brasileiros
Revista Brasileiros